Chegou o "Caminhos do Frio" em Serraria, e este ano a homenagem foi para o Jornalista Wellington Farias e o mestre Ariano Suassuna.

A abertura contou com uma bela peça teatral contando o movimento Armorial, a história dos engenhos que impulsionaram a economia de Serraria no século XVIII, e a história de Farias.

Wellington era um intelectual que protagonizava reportagens e opiniões políticas impactantes.

Na época em que Ariano Suassuna estava recluso sem dar entrevistas, Farias apareceu de supresa na casa do nobre mestre (num dia chuvoso) e pediu uma entrevista. Em princípio, Ariano se recusou e Wellington argumentou: "Mas Ariano, eu vim da Paraíba só para lhe entrevistar. Estou aqui todo molhado!".

E Ariano respondeu: "Tá bem jornalista, vou lhe dar entrevista porque você me pegou de tocaia". Wellington conseguiu a importante entrevista, mas sem querer, ele gravou Ariano por cima de outra importante entrevista, a de Dom Helder Câmara.

No entanto, meu pai era um homem que acreditava na capacidade humana. Ele ensinava ao mestre de obra da nossa casa o violão clássico.

Com métodos de ensino controversos, o aluno podia ser semianalfabeto, meu pai lhe entregava os clássicos da literatura. O primeiro livro que entregava era o "Discurso da Sevidão Voluntária" de Étienne de La Boétie. Depois, "A Arte de Escrever" de Schopenhauer, e seguia com "O Mundo de Sofia" de Jostein Gaarder, "Dom Quixote" de Miguel de Cervantes, e "A Pedra do Reino" de Ariano Suassuna.

Com essa receita cultural de música e literatura, pedreiros se tornavam especialistas criando uma realidade paralela. Eu não li Dostoiévski, por exemplo, e tinha dificuldade de acompanhar as conversas do grupo.

E nessa brincadeira, Serraria, exportou músicos para orquestras sinfônicas, a exemplo da orquestra da Petrobras.

É que ninguém percebia a loucura de Farias, que lutava para transformar Serraria numa Sorbonne com seus experimentos sociais.

Sua partida gerou inúmeros ensaios filosóficos, foi um duelo sem precedentes, os mestres de obra, vaqueiros e trabalhadores rurais debateram o legado de Farias, com os empiristas transformando a casa do jornalista e sua biblioteca em uma casa cultural.

O artista Edson Santos, natural de Serraria, pintou um quadro de dois metros de Farias e Ariano, e a exposição da obra ficou na praça da cidade.

Um jovem vaqueiro fascinado com as aventuras de Dom Quixote, desenhou o fidalgo cavalgando nas terras de Serraria, superando assim o quadro que mandamos trazer da Espanha.

Óbvio, são pintores da escola de Pedro Américo, o pintor de "Independência ou Morte" e do Imperador, que era da cidade de Areia.

Assim, todos se apresentaram na Casa de Wellington Farias, os vilões, os trompetes, pintores, escritores, e poetas.

E os poemas de Ariano marcaram o encerramento ao público: "Quando eu morrer, não soltem meu Cavalo
nas pedras do meu Pasto incendiado:
fustiguem-lhe seu Dorso alardeado,
com a Espora de ouro, até matá-lo.

Um dos meus filhos deve cavalgá-lo
numa Sela de couro esverdeado,
que arraste pelo Chão pedroso e pardo
chapas de Cobre, sinos e badalos..."

Jamais faria tamanha perversidade com o Cavalo de Farias, alertei a todos. E me deram a ideia de empalha-lho como os franceses fizeram com o cavalo de Napoleão, o que aparenta ser o apropriado.







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