Por Djair Alexandre

Crônica: Eu, Paris e o cavalo de Napoleão

Muitos que vão a Paris querem se deslumbrar no “Les Invalides”, ou Palácio dos Inválidos, um dos maiores templos da história da França. Entre as figuras ilustres que adormecem nos Inválidos, encontra-se o Imperador Napoleão Bonaparte.

A minha curiosidade sobre este que foi um gerondino e general na revolução francesa é cômica. Definitivamente, minha curiosidade não era diferente da de todos, exoticamente queria ver também o outro participante desta história, o cavalo de Napoleão. Quem nunca escutou aquela pergunta: “qual é a cor do cavalo de Napoleão?”

Depois de passear por muitas joias arquitetônicas de Paris - passeio que aconselho fazer intercalando entre bistrôs e alguns beijos – chegou enfim o dia de conhecer “Les Invalides”.

Eu que já estava super empolgado em Paris por centenas de motivos românticos e boêmios, ao chegar nesse museu de armas fiquei impressionado com seu tamanho, salas e mais salas de armaduras medievais das figuras importantes da França, quadros das campanhas militares, arsenais de guerra do passado com fardas da primeira e segunda guerra mundial.

Era tão impressionante a quantidade de história que, por um momento, esqueci-me do que queria mais ver. Não havia sinal do cavalo e isto me deixou impaciente.

Pedi informações e não me disseram ao certo em qual sala estava - e olha que o animal está empalhado lá há duzentos anos. Entrei em uma sala de espadas e havia homens vestido com roupas da idade média vendo as armas, e era tão real suas aparências e a falta de banho que percebi que tinha voltado ao passado. Eu não me assusto com almas, nobres leitores, pelo contrário, agradeci ao Senhor por ter tornado o passeio mais realista.

Nossa delegação de amigos estava cansada e impaciente comigo, queriam ir embora, à noite tínhamos uma boate para ir e já havíamos passado por um longo roteiro.      

Mas eu disse não em protesto, pedi que encontrassem o cavalo e eles saíram divididos para encontrar o bendito animal, eu parecia uma criança que empaca no meio do passeio. Enfim, alguém falou: “Está aqui, Alexandre, mas é um pangaré!”

Napoleão, provavelmente, se revirou no túmulo porque estavam rindo de Vizir, que é o nome do cavalo. É verdade, seus cavalos sempre receberam muitas críticas pelo que eu soube, mas pedi calma a todos e defendi a história de Vizir, contestei que aquele animal estava magro porque estava empalhado há dois séculos e, coitado, em vida foi treinado arduamente com canhões disparando ao seu lado, bandeiras balançando, espadas e baionetas desembainhadas e conquistando a Europa. E ele morreu de velhice, magro.

Vizir era um cavalo árabe, expliquei a todos, e foi dado de presente a Napoleão pelo sultão do Império Otomano Selim. Ele realmente é baixo porque o Imperador Napoleão gostava de cavalos baixos, pelo fato que ele próprio também era baixo. Napoleão tinha centenas de cavalos e todos eram baixos, mas Vizir era um dos favoritos e participou de várias batalhas.

Vizir, além de ter participado de várias batalhas, foi o escolhido por Napoleão para acompanhá-lo em seu exílio até a sua morte. Dito isto aos meus amigos, estes com razão retrucaram que então ele devia estar mais próximo da Urna do Imperador e não no terceiro andar. E eu tive que concordar com eles, que pela aparência franzina de Vizir os franceses não acharam apropriado à imagem do Imperador, os quadros retratando a montaria nas batalhas ficaria condizente.

Sim, a cor é esta da foto, parece ser amarelo por conta da iluminação, mas está escrito que ele era cinza esbranquiçado. Porque Napoleão tinha centenas de cavalos árabes com a mesma cor e de vez em quando os tratadores não sabiam qual era qual.   

instagram: @djairalexandre

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