Câmara de João Pessoa concede título de Cidadão Pessoense ao jornalista Heron Cid, natural de Marizópolis

Por Wellington Farias (*)
Em solenidade bastante prestigiada, a Câmara Municipal de João Pessoa promoveu a entrega do título de Cidadão Pessoense ao jornalista Heron Cid, que é natural de Marizópolis, no Sertão da Paraíba. A sessão extraordinária realizou-se nesta sexta-feira (3.6), no plenário da Casa de Napoleão Laureano.

O título de Cidão Pessoense concedido ao jornalista foi proposto pelo vereador Bosquinho. Em meio a sessão solene extraordinária, foi exibido no telão do plenário um vídeo com depoimentos de colegas do homenageado que foram e são importantes na sua brilhante trajetória. Na platéia também estavam conterrâneos do homenageado.

Num discurso proferido com a voz quase sempre embargada, Heron Cid enalteceu de modo especial as suas origens, a trajetória de vida, a família, e sua relação com Deus. Também fez um relato as duas décadas vividas em João Pessoa pontuando as dificuldades naturais de um recém-chegado à cidade grande, o acolhimento, o aprendizado. Na sequência, agradeceu por todas as conquistas obtidas ao longo dos anos. (Clique aqui para ouvir trecho do discurso de Heron)

Régua e compasso
“João Pessoa me deu tudo que eu tenho, e me fez tudo o que eu sou”, testemunhou o jornalista em conversa com os colegas de profissão, antes de receber a honraria. Já na tribuna, destacou que a fé tem sido uma parceira. “A fé é diferente de coragem. A coragem é acreditar na própria força. A fé é acreditar na força e no poder de Deus”.

Para o homenageado, o título representa o esforço de transformar os objetivos em realidade. “Representa muito para quem chegou 20 anos atrás aqui cheio de expectativa, com a sacola vazia de coisas, mas o coração cheio de sonhos. A gente olha para trás vê o filme da vida e vê o quanto essa cidade foi generosa comigo em oportunidades, na formação profissional, no sustento, com as portas abertas para desenvolver uma profissão que eu já carregava desde os 13 anos”, lembrou o jornalista.

Perfil – Heron Cid César Soares Madrid nasceu em 1983, filho da servidora pública Marizete Soares e do radialista José Maria Madrid (In memorian) e irmão de Hernon Hilário (in memorian) e Hanna Vitória. É pai de Herla, José, Cleiperon, Benjamim e aguarda a chegada do quinto filho, Daniel. É casado com a também jornalista Marly Lúcio.

Sua história com a comunicação começou bem cedo, aos 13 anos, quando iniciou no serviço de som da cidade de Marizópolis. Ainda como estudante na UFPB, Heron Cid atuou como correspondente de programas radiofônicos no Sertão e como estagiário da assessoria de imprensa da própria Universidade. Após isso, trabalhou no setor de Comunicação Institucional do Tribunal de Regional Eleitoral (TRE) e, tão logo concluiu o curso, foi contratado como repórter de rádio no Sistema Correio de Comunicação.

Naquela empresa, Heron Cid atuou ainda como repórter de televisão, passando em seguida a âncora e apresentador de TV e de programa radiojornalístico na emissora (Correio Debate). Ele também foi colunista político do extinto Jornal Correio da Paraíba e responsável pela mediação de debates eleitorais entre candidatos a governador da Paraíba e a prefeito da Capital.

O jornalista trabalhou ainda na Rede Arapuan de Comunicação, onde também desempenhou as funções de apresentador de TV e rádio. No grupo, criou o programa semanal de entrevistas “Frente a Frente” e o radiofônico “60 Minutos”.

Empreendedor
Em paralelo, desde 2010, Heron Cid também é empresário, enveredou na veia empreendedora e fundou o Portal MaisPB, um dos mais acessados do estado e que esse ano completa 12 anos de existência.

Atualmente, ele pilota o Blog Heron Cid, de análises e bastidores políticos, e também criou e apresenta o programa Hora H, na Rede Mais Rádio, uma cadeia autônoma formada por 25 emissoras de toda Paraíba, de segunda a sexta-feira, das 18h às 19h.

O discurso de Heron, na íntegra:

•        Paraibanos e paraibanas de João Pessoa. Ou melhor, pessoenses da Paraíba.

•        Quando desembarquei nesta “Cidade das Ácácias”, “era apenas um rapaz latino paraibano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do Interior”. A saga da canção de Belchior denuncia minha inescondível afeição musical pela obra do poeta cearense. E como boa crônica atemporal, narra a diáspora de muitos migrantes.

•        Em cada rosto neste plenário, em cada face desta galeria, vejo este fluxo vivo que – vai e vem – e chega ao mesmo destino; uma senhora de 436 anos, cheia de histórias para contar e dona de um jovem coração que convida a ficar.

•        Era junho de 2002. Numa manhã como essa, a Expresso Guanabara fazia sua parada final de uma noite de 440 quilômetros. Entre Marizópolis e a Capital, o sono e sonho, entre o Sertão e o litoral, o medo dizendo “não” e a esperança gritando “sim”.

•        O dia mal cortara a aurora e aquelas chuvas, como essas de agora, umedeciam as boas vindas derramando os céus no chão amarelado de ipês. Não poderia ter melhor recepção. Para um menino sertanejo, apreciador das nuvens carregadas, do estrondo dos trovões, do fulgor dos relâmpagos e dos banhos de bica, dia bom é quando “está bonito pra chover”.

•        Foi amor ao primeiro cheiro. O cheiro de João Pessoa – o cheiro de uma nova estação - logo acalmou “a ferida viva” da partida. Refletido no retrovisor, a despedida dos amigos e afetos que chorei e as lágrimas dos três amores que deixei de olhos deitados na janela da Rua Ana Rocha número 18. (Marizete, Nuita e Hernon, meu irmão)

•        Ao cortar a Epitácio, a Pessoa larga, cumprida e concretada que acabara de conhecer pelas vidraças embaçadas do ônibus, eu só trazia “a coragem, a cara” e uma vontade danada de vencer.

•        Antes, teria primeiro de superar os contrastes da calmaria do lugar pequeno, onde o tempo caminha devagar, versus a pressa de sobreviver, típica dos passarinhos urbanos, do formigueiro humano.

•        Teria de vencer, ainda, a mim mesmo e uma timidez quase patológica, paralisante. Só havia duas armas: a palavra, falada ou escrita - cujo encantamento já acalentava desde os primeiros anos. E a fé, semente plantada em mim desde as canções aprendidas pelas cornetas do Serviço de Som da Capela de Santo Antônio e recitadas por Dona Marizete no claro da lamparina de Dona Nuita.

•        Na Universidade Federal da Paraíba, o curso de Jornalismo abriu as veredas das oportunidades e me curou da mudez. Logo na chegada, um estágio no Cerimonial da UFPB, mais tarde na Assessoria de Imprensa, com o bônus do luxuoso privilégio da tutoria do tamanho de um Rubens Nóbrega. Em cada inesperada providencia, vejo a mão de Deus.

•        As refeições no Restaurante Universitário, as tardes infinitas de leituras e inquietações na Biblioteca Central, e a algazarra juvenil no Pensionato de Cida, a casa que me ensinou a lavar a própria roupa, esfregar os medos, engomar as dificuldades e cozinhar o pão da perseverança.

•        No Castelo Branco, uma casinha humilde para mundos diferente no meu Curtiço, de Boaz, Rivânio, Walter, Alexandre, Dioclécio, Hebert, Michel. Tempos em que bolacha com doce de goiaba em lata era manjar e o dinheiro do mês tinha que durar mais de 30 dias em centavos contados, regrados e anotados no caderninho das despesas.

•        A esta altura, o medo já havia sido desencorajado. Já era possível ousar falar em sala de aula e perguntar o destino do ônibus ao motorista sem o risco de terminar perdido no ponto final do Valentina quando o destino procurado era a Lagoa.

•        De tanto falar e comentar política com exagerado entusiasmo, em tom de brincadeira fui eleito pelos hóspedes e comensais “o prefeito” da República que morávamos. Mas de onde vinha aquele apetite por um prato que combinava jornalismo e política tão naturalmente como arroz e feijão.

•        O interesse pelo universo dos partidos, da política e dos líderes despertara, ainda menino, do testemunho pessoal do movimento e plebiscito para transformar o então acanhado distrito de Sousa em independente município de Marizópolis.

•        Vinha também da luta que via dentro da casa da auxiliar de ensino - separada e depois viúva – vendedora de produtos da Avon para sustentar dois filhos. Mulher pobre que por pura obstinação feminina e teimosia sertaneja, virou vereadora Marizete Soares Bezerra.

•        Noutra artéria, corria o sangue e o talento e o sangue para a comunicação herdado de José Maria Madrid, radialista que fez fama no Rio Grande do Norte e no sertão paraibano. A simbiose pariu o primeiro filho do casal em 26 de dezembro de 1983, em Sousa, e somente em João Pessoa, anos mais tarde, iria explicar o milagre de uma arrebatadora metamorfose.

•        De jovem tímido e de poucas palavras a repórter de política, apresentador de rádio e TV, comentarista, colunista, entrevistador, mediador de debates eleitorais, empreendedor na área de comunicação, dono do próprio veículo, piloto de uma rede autônoma de rádios.

 

•        Num período de Mar pra lá de Vermelho, essa travessia só foi possível pelos cajados estendidos na minha frente, abrindo caminhos e portas, exortando a seguir, partilhando maná e codornas, encorajando a vencer as carruagens das egípcias dificuldades. Olho para este plenário e platéia e vejo em muitos de vocês os meus Moisés.

•        Enxergo também muitos Simãos Sirineus, que carregaram pesadas cruzes de adversidades comigo. Aqui vejo a generosidade de bons samaritanos que tiraram a própria capa para me cobrir do frio, que matou a minha fome de trabalho com sustento dos empregos que transformaram minha água em vinho. No melhor vinho da festa.

•        Hoje, diante desta singular homenagem, depois de subir os montes dos desafios e provações, assim como Abraão lanço a vista sobre João Pessoa e descanso numa certeza; eis “a minha terra prometida”, aquela que Deus mostrou quando me desafiou a deixar tudo por um chão que ainda iria mostrar. E não hesitei ao som da trombeta do vestibular chamando meu nome.

•        Nessa jornada, quando faltou dinheiro sempre sobrou fé. Aliás, aproveito este instante para um registro íntimo e pessoal nos arquivos desta Casa. E o faço ternamente olhando para meus descendentes que dividem esta hora comigo. Quando eu morrer, (espero que demore), e houver escassez da lembrança de alguma virtude, se nada de bom deixar de legado para vocês, e se no balanço da minha memória o peso dos defeitos for maior, não esqueçam, porém, de apenas uma qualidade: o pai de vocês foi um homem de fé. Fé em Jesus Cristo de Nazaré. E, apesar das limitações muitas, das falhas tantas, foi alguém alcançado pela graça do sacrifício da cruz.

•        Nesta fé e, por ouvir e buscar a voz de Deus, tomei grandes, arriscadas e questionadas decisões nestes meus 38 anos de vida. Nunca me arrependi. Nunca fui desamparado. Nunca fui desonrado. Mas saibam. A fé é diferente da coragem. Coragem é acreditar na própria força. Fé é acreditar na força e no poder de Deus.

•        Com fé, há exatas duas décadas semeio neste solo produtivo chamado João Pessoa. E que terreno fértil! Aqui plantei a árvore de uma carreira que se enraizou pelo estado afora, escrevo um livro por dia nas páginas do jornalismo, ofício que exerço com devoção, e segui à risca a receita do poeta cubano José Martí.

•        Fiz filhos. Muitos filhos!!! As quatro flores que perfumam e me beijam nesta manhã; Herla, José, Cleiperon e Benjamim. E o quinto brotinho, Daniel, que cresce ali no ventre da mãe dele e mulher minha. Porque sou assumidamente dela. Marly Lúcio, minha grandiosa companheira, por quem admiração e amor vivem em permanente disputa nas batidas do meu coração. Semelhantemente é minha arrebatadora paixão por João Pessoa.

•        Cosmopolita por vocação, materna por natureza, aqui o sol nasce primeiro e para todos. As suas verdejantes sombras e bairros abrigam viajantes de cidades, estados e países distantes. É espaço uterino para aquele a quem recebe, nutre e dá asas, sem qualquer preconceito de origem ou limite geográfico.

•        Sua verde Mata Atlântica sufoca as ervas daninhas dos bairrismos, joga picuinhas no rio Sanhauá, cura tristezas “nas águas fundas” do seu mar azul, presenteia quem chega com a geografia do seu rico acervo histórico e cultural e estende tapete tão colorido quanto nossa gente boa. É João, mas o melhor são as pessoas.

•        O que sobra de acolhedora, tem de altiva, exigente e livre. Senhora de si e de uma rebeldia nata. Aqui todos entram e podem fazer morada. Mas ela nunca, jamais, aceitou ter um dono. Nem na política. A história está aí para mostrar. É por isso sempre surpreendente, enigmática.

•        Confesso. Resisti por muito tempo as prospecções de parlamentares consultas de candidatos a patronos desta honraria. Crítico da banalização das concessões, exigente que sou comigo mesmo, anos atrás não me sentia à vontade e nem digno de tão elevado reconhecimento. Em 2020, dei-me por vencido pelo argumento cabal do sereno e atuante vereador Bosquinho: já reunia tempo considerável de presença, vínculo afetivo e contribuição social e pública, no âmbito da minha atuação profissional. Rendi-me ao que já não cabia em mim.

•        À época, esta Casa foi abundantemente graciosa e à unanimidade me outorgou o título que hoje toca minha alma, vibra meu peito e mareja meus olhos. E fiz questão de recebê-lo aqui neste plenário. O mesmo que no começo da trajetória de repórter presenciei grandes debates, fiz entrevistas, questionamentos e cobri sessões ao lado de tantos valorosos colegas que aqui estão hoje.

•        Poderia até ter me valido da opção de transferir esta festiva solenidade para um auditório, onde certamente caberiam mais amigos, com mais conforto e pompas. Ouvi ainda a sugestão de remanejar este evento para a sede da nossa Associação Paraibana de Imprensa, numa distinção à minha categoria e segmento.

•        Não. Aqui estou num gesto inequívoco de gratidão a cada um dos senhores parlamentares. Os de hoje e os de ontem. Venho aqui numa demonstração eloqüente de reconhecimento ao valor do Parlamento e para me somar na defesa inegociável da preservação, aperfeiçoamento e fortalecimento das instituições democráticas.

•        Estou aqui para erguer minha voz e – de público - testificar a política – a Política com P Maiúsculo - esta insubstituível ferramenta civilizatória de organização, governança, emancipação e cidadania. A força das idéias e do argumento precisa sempre prevalecer sobre a ideia da força.

•        Venho aqui para também fazer deste gesto a mim dirigido uma homenagem extensiva aos meus companheiros de uma profissão tantas vezes incompreendida. Desvalorizada por omissões, aviltada por ações. Numa democracia, a imprensa foi, é e continuará sendo um pulmão social. Sem ela, liberdades são sufocadas e verdades são asfixiadas.

•        Esta cidadania concedida aqui poderia ser o reconhecimento a um profissional que se distinguiu por muito esforço para acertar e algum talento para exercer. Poderia ser o triunfo de uma mãe solteira que não desistiu de educar e acreditar no filho, mesmo quando a renda só dava para pagar uma mensalidade e dever duas. Poderia ser uma homenagem póstuma a uma avó que - com sorriso no rosto – doou a vida para ajudar a criar os netos de quem sempre foi mãe. A um pai que profetizou o destino do filho com nomes de três jornalistas. Heron de Heron Domingues, Cid de Cid Moreira e César de César Ladeira.

•        Mas esta solenidade é, em verdade, uma ode a milhares de pessoenses, como eu, que não tiveram a sorte de aqui nascer, mas encontraram a felicidade de aqui viver. É uma declamação poética à viagem sem volta de tantos sertanejos, caririzeiros, seridoenses, brejeiros, só para falar dos conterrâneos. De nordestinos, sulistas, nortistas, sudestinos e oriundos do cerrado, só para ficar nos compatriotas.

•        Gente que não a tem na certidão de nascimento, mas é pessoense por apaixonado sentimento e voluntário pertencimento. Portanto, divido com HUMILDADE esta cidadania com toda a nossa gente anônima que nunca terá o privilégio de experienciar a alegria pública que estou vivendo agora. E nem por isso deixa de sentir – todo dia - o orgulho de ter endereço, vida e coração fincados neste solo que germina vida, qualidade e bem estar.

•        Vinte anos depois daquele dia em que cheguei com os pés feridos e cansados de andar légua tirana, posso dizer bem alto, de coração aberto, cabeça erguida e de bem com a vida.

 

•        Continuo sendo o mesmo rapaz latino paraibano, sem dinheiro no banco, mas com a conta milionária de amigos. Sem parentes importantes, mas com uma família especial e numerosa para chamar de minha. E vindo do Interior. De Sousa, a mãe biológica que me deu a luz, de Marizópolis, que amorosamente me criou muito bem, e carinhosamente adotado e convertido a filho adotivo deste “Recanto Bonito do Brasil”, que me deu tudo que sou e o que tenho.

•        João Pessoa! Se eu já era perdida e achadamente teu, agora mais do que nunca, tu és também inteira e ensolaradamente minha. Diante destas testemunhas, eu aceito essa publica aliança e declaro: esse nosso longo noivado e feliz convivência, esse inquebrantável respeito e esse grande amor... agora é casamento. Até que a morte nos separe!!!

Muito Obrigado!

Heron Cid Cesar Soares de Madrid

(*) Acrescentando informações do MaisPB

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