
Por Ringson Monteiro de Toledo (*)
A tensão do momento político brasileiro deixa à mostra discussões para todo gosto, das equilibradas e com certa dose de racionalidade aos que optam pelos excessos, violências e desarranjos que em nada contribui com o espectro democrático no processo eleitoral, fruto da indesejada polarização.
No entanto, se não bastasse o desgaste gerado pelas discussões vazias e infrutíferas, temos que assistir, seja de camarote ou no picadeiro, com todo respeito a arte circense, aos arranjos partidários, até certo modo normais no jogo democrático, mas que decepcionam nas metodologias discursivas e interesseiras, com destaque a escolha dos componentes das chapas, na condição de vice.
Nesse “teatro” partidário onde se vê de tudo, sabemos que não há nenhum candidato que esteja a caminho dos altares ou em processo de canonização. Afinal, virtudes e santidades não colam nesse universo, pelo contrário, até penso que a “ética” dos infernos seja, em certo sentido, menos maléfica do que os falatórios e arranjos trazidos nas conversas e conchavos de pé de ouvido, tudo com base no interesse do quem tem mais vantagem.
No entanto, sem querer partir para uma análise de conjuntura política, aos moldes dos grandes analistas de plantão, pois tenho a consciência que não me encaixo, bastando dizer que sou apenas um “pitaqueiro”, observo que as escolhas dos pretensos candidatos a vice nascem enviesadas por dois parâmetros: o do utilitarismo barato e fajuto, plasmado pelos elogios, onde os titulares vomitam, no início da campanha, as inúmeras qualidades, quando indagados sobre possíveis nomes para a chapa, e o da covardia e do descarte após a tomada de posse, onde telefonemas não são feitos, números são mudados, contatos desfeitos, amizades dilaceradas e alianças políticas de décadas jogadas ao léu.
No frigir dos ovos, a síndrome da escolha do candidato ou candidata a vice, em qualquer cenário, nacional ou local, tem como foco, com raríssimas exceções, a hipocrisia partidária que deixa os mais sérios eleitores, que ainda têm na palavra uma garantia “fiduciária” melhor do que qualquer outra, estupefatos, muito embora, como dito acima, saibamos que não há inocentes úteis pois todos se aproximam ou “acoloiam-se” (se é que existe essa palavra) com as cartas já marcadas e os acordos anotados no papel, mesmo sabendo que, após a ressaca da vitória, pode-se dar uma descarga no assento sanitário moral de quem prometeu, beirando a uma verdadeira amnésia.
Alguns fenômenos ilustram essa situação, que só faz desmascarar o que há de mais podre nas vielas políticas, arrimadas pelos interesses escusos de quem almeja o poder. Sem adentrar ao meandros e outras razões, das quais não me interessa, lembremos da desfeita relação entre Ricardo Coutinho e Luciano Agra (de feliz memória); a cartinha escrita, aos moldes de um “menino buchudo” e magoado, de Michel Temer a Dilma Rousseff; ao deselegante gesto feito pelo prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima (embora estivesse em outro local) ainda essa semana, quando do anúncio do maior São João do Mundo, deixando o vice prefeito Lucas Ribeiro escanteado, dando voz a Romero Rodrigues, que nem é titular da gestão; o distanciamento entre Lígia Feliciano e João Azevedo e por aí vai...
Os dados acima são apenas ilustrativos, pois com certeza há muitos outros que não caberiam no artigo. No entanto, independente das justificativas e pormenores trazidos por quem queira fazer, advinda dos assessores dos próprios citados ou dos babões de plantão, o resultado de certas escolhas para vice revela, em síntese o desinteresse por uma formação de chapa que pense de forma ampla ou que considere os reais destinatários da boa política. Na verdade, apenas elucidam o terreno movediço que sustenta tais relações, o que é lamentável.
(*) Ringson Monteiro de Toledo, é advogado e colaborador eventual do Dito e Feito-PB
ringoadvogado@hotmail.com
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